Não deveríamos, influenciados por fatores externos, alterar os
nossos princípios ou hábitos. Nas aventuras que vamos fazendo
juntos, “pregamos” sempre que a melhor forma de fazer as coisas
é sempre numa atitude e disponibilidade de dentro para fora. De
dentro para fora no sentido de, ao invés de nos influenciarmos por
fatores externos, animarmos o que nos vai na “alma”, de dentro
para fora.
A verdade é que, usualmente, apenas mudamos algo influen ‑
ciados por fatores externos. Ou porque somos obrigados a fazê‑lo,
ou porque aprendemos normalmente da pior forma… através de
doenças e estados de choque.
Por influência externa, o ano de 2020 começou por obri‑
gar‑nos a mudar a forma de olharmos para as coisas. E de fazer‑
mos as coisas. No nosso caso específico, através deste livro, gosta ‑
ríamos de te convidar a mostrares‑te disponível para olhares para
a forma como nos relacionamos com o trabalho. Acreditamos que
este momento é uma oportunidade para recuar um pouco e colo‑
car em causa as origens. Para então depois concluir sobre a melhor
forma de implementarmos aquilo em que acreditamos: de dentro
para fora.
O que está a acontecer hoje é que, por medo e influenciados
por fatores externos, começamos a entrar em atitudes de imitação,
e copiamos atitudes de terceiros sem saber muito bem porquê. Por
exemplo, quando Jack Dorsey, CEO do Twitter, declara (https://
www.bbc.com/news/technology‑52628119) que as pessoas da
sua organização poderão nunca mais ter de trabalhar no escritó‑
rio, o que vemos são empresas e pessoas a tentarem copiar o mo‑
delo, sem saberem muito bem porquê. Porquê? Para quê?
Parece que, por osmose, percebemos que afinal existem ou ‑
tras novas formas de trabalhar quando, na verdade, estes “novos”
modelos sempre existiram. Se sempre existiram porque não falá‑
mos neles mais cedo?
Tudo indica que é porque consideramos estranho e temos
medo de colocar em causa o facto de deixarmos de ter um empre‑
go ou trabalho das 9h às 17h. Ou mesmo porque receamos mudar
a nossa forma de fazer aquilo a que chamamos trabalho. Porque
isso é diferente do que conhecíamos. Porque causa desconforto.
Causa dor.
Para fazermos esta viagem de forma esclarecida é impor‑
tante percebermos as origens do trabalho. Vamos começar pelo
princípio.
A palavra trabalho vem do latim tripalium, termo formado
pela junção dos elementos tri, que significa “três”, e palum, que
quer dizer “madeira”. Tripalium era o nome de um instrumento
de tortura constituído de três estacas de madeira bastante afiadas
e que era comum em tempos remotos na região europeia. Des‑
se modo, originalmente, “trabalhar” significava “ser torturado”.
Curiosamente, hoje, para algumas pessoas, também o é. Mas será
que tem obrigatoriamente de ser assim?
No sentido original, os escravos e os pobres que não podiam
pagar os impostos eram os que sofriam as torturas no tripalium.
Assim, quem “trabalhava”, naquele tempo, eram as pessoas des‑
tituídas de posses.
A ideia de trabalhar equivalente a ser torturado passou a
abranger não só o ato de tortura em si, mas também, por extensão,
as atividades físicas produtivas realizadas pelos trabalhadores em
geral: camponeses, artesãos, agricultores, pedreiros, etc.
A partir do latim, o termo passou para o francês travailler, que
significa “sentir dor” ou “sofrer”. Com o passar do tempo, o sen ‑
tido da palavra passou a significar “fazer uma atividade exaustiva”
ou “fazer uma atividade difícil, dura”. Só no século XIV come‑
çou a ter o sentido genérico que hoje lhe atribuímos, ou seja, o de
“aplicação das forças e faculdades (talentos, habilidades) huma‑
nas para alcançar um determinado fim”. Com a especialização das
atividades humanas, imposta pela evolução cultural (especial‑
mente a Revolução Industrial) da humanidade, a palavra trabalho
tem hoje uma série de diferentes significados, de tal modo que o
verbete, no Dicionário Priberam, lhe dedica 14 definições básicas
e diversas expressões idiomáticas.
Giro? É verdade. Agora, e se tomarmos como premissa que existe uma melhor
forma de trabalhar? Ao invés de olharmos para ela como uma “es‑
cravidão”, poderemos olhar de outra forma mais positiva?
Este livro convida‑te a olhar para este assunto de uma forma
pragmática, transparente e verdadeira. Não prometemos nada.
Apenas queremos animar uma atitude de “não vale a pena co‑
piar”. Vale a pena compreender as raízes dos desafios e descobrir
a melhor forma de os vencer. No final, gostaríamos de concluir em
conjunto que: sim! existe uma melhor forma de trabalhar.
Vamos lá!